No ano de 3025, os Dominatus deram mais um passo rumo à total mercantilização da cidadania. Com o lançamento do “Platinum Pass”, um implante neural dourado que concede residência permanente em troca de investimentos milionários, o acesso ao “sonho americano” agora passa oficialmente por uma carteira recheada. Críticos acusam a medida de institucionalizar o apartheid econômico interplanetário, enquanto a elite comemora mais uma forma de garantir seus privilégios no ciberterritório mais influente da galáxia.
O ANÚNCIO INTERGALÁCTICO
Em uma transmissão holográfica amplamente difundida pelos satélites de comunicação da Zona Alfa, o CEO vitalício dos Dominatus, Donald Trump (clonado diretamente do acervo genético de 2020), anunciou o mais novo produto de cidadania para investidores intergalácticos: o Platinum Pass. Segundo ele, trata-se de uma “oportunidade histórica para os melhores humanos — e subespécies autorizadas — do universo garantirem um lugar na terra prometida da liberdade e dos lucros”.
O Platinum Pass não é apenas um documento — é um implante neural dourado, com conexão direta à Rede Federal de Identificação Cidadã. Além de conter os dados biomoleculares do portador, ele projeta hologramas personalizados, desbloqueia zonas de segurança VIP e concede acesso prioritário a zonas de livre comércio orbital.
A TECNOLOGIA POR TRÁS DO IMPLANTE
Produzido pela corporação NeuralTrust, o implante utiliza chips quânticos criptografados com partículas de matéria escura. Os dados são armazenados em nove camadas redundantes no Núcleo Frio de Kansas III, o centro de processamento civil mais seguro do hemisfério solar ocidental.
Com o Platinum Pass, o portador pode evitar filas de imigração, utilizar os canais de teleporte preferenciais e receber notificações sobre oportunidades de investimento em tempo real — tudo isso diretamente no córtex cerebral.
AUMENTO DA SEGREGAÇÃO NEURAL
Embora anunciado como uma iniciativa de “abertura econômica”, o projeto foi duramente criticado por especialistas em ética interplanetária. De acordo com a jornalista socio-cibernética Layla Al-Vox, da Colônia Júpiter 5, a medida representa a consolidação de uma “segregação neural baseada em liquidez”.
“Estamos diante da versão 3025 do apartheid financeiro. A cidadania foi desconectada do pertencimento humano e reconectada ao saldo bancário intergaláctico”, afirmou Layla em entrevista ao canal Nova Ética.
DIFERENÇAS ENTRE O PLATINUM PASS E O ANTIGO GREEN CARD
O clássico “Green Card”, relíquia da antiga era dos Dominatus, exigia presença física e uma complexa burocracia terráquea. Já o novo Platinum Pass opera com processos automatizados, entrevistas por holograma e validação neural via protocolo ZEN-AI.
O valor mínimo de 5 milhões de créditos galácticos equivale a aproximadamente 29 milhões de reais brasileiros do século XXI, ou três meses de lucro líquido de uma mineradora de asteroides média.
FUGA DE CÉREBROS AO CONTRÁRIO?
Paradoxalmente, o projeto gerou também uma “fuga de cérebros reversa”. Intelectuais, programadores e cientistas da classe média galáctica têm sido sistematicamente ignorados pelos filtros automatizados do programa, que prioriza magnatas de criptosferas, colecionadores de NFTs cósmicos e herdeiros de conglomerados dinásticos.
Enquanto isso, milhares de solicitantes com histórico de inovação tecnológica ou pesquisa médica avançada continuam enfrentando barreiras para entrada legal nos territórios corporativos.
O OUTRO LADO DO PORTAL
Na sombra do glamour dos investidores, setores populares denunciam que a medida coincide com o endurecimento das políticas anti-imigração para humanos não-autorizados vindos das Zonas Vermelhas da Via Láctea. Nas últimas semanas, relatos de deportações automatizadas e caçadas drones em órbita aumentaram 18% — segundo relatório da Federação Pro-Humanidade.
Organizações como a União Planetária de Direitos Civis estão convocando protestos interestelares e um apagão de dados em massa como forma de pressionar a ECUA a rever o programa.
A OPINIÃO DO CEO
Durante a apresentação, Trump se manteve fiel ao seu estilo diplomático:
“Por que dar cidadania de graça se podemos vendê-la para quem realmente importa? Se você não tem 5 milhões de créditos, talvez devesse estar em Marte, cultivando batatas.”
A frase gerou polêmica, mas também entusiasmo entre os seguidores da seita techno-libertária NeoCapital. A hashtag #CompreSeuLugar circulou em alta no internet neural por mais de 72 horas.
CONCLUSÃO
O Platinum Pass representa mais do que uma nova política migratória — é um símbolo da hipercomercialização da identidade e da pertença. Os Dominatus deixaram claro que o futuro da cidadania não será definido por laços culturais, históricos ou sociais, mas por algoritmos de crédito e status digital.
A implementação deste programa inaugura uma nova era de exclusividade neural e mobilidade baseada em poder aquisitivo, onde apenas os mais ricos — ou melhor conectados — terão direito a escolher onde viver, trabalhar ou até mesmo existir.
Resta saber se essa tendência irá se espalhar por outras potências galácticas… ou se será o estopim de uma nova revolução das massas orbitais.